quarta-feira, 28 de julho de 2021

Lembrança do Sebo do Vicente

  

 
 
 thumbnail O famigerado Sebo do Vicente

Eis um dos registros mais icônicos de minha mocidade. Estava com meus amigos no famigerado Sebo do Vicente, o único da pequena cidade de Queimados, na Baixada Fluminense, interior do Rio de Janeiro. Pela foto, fica a impressão de que nós dopamos o senhorzinho e saqueamos o lugar. Provavelmente essa foi a intenção zombeteira do fotógrafo. Deu certo. Mas o senhor dorminhoco não era o Vicente, aliás, eu não faço ideia de quem era.

Com toda certeza esse sebo era um dos lugares mais undergrounds da Baixada. Primeiro pela desorganização claustrofóbica que, como se pode ver, era ímpar. Segundo pelo fato esquisito de que o Vicente também vendia, no sebo, temperos variados, de modo que o lugar era infestado pelo cheiro de Orégano. E terceiro pelo fato de que Vicente, extremamente cordial, costumeiramente oferecia café enquanto lia uma Playboy antiga e comentava os pentelhos da Cláudia Raia.

Apesar das bizarrices, o sebo deu bons frutos. Acreditem ou não, um de nós comprou o clássico Laranja Mecânica por uns cinco reais lá. Eu consegui uma coletânea do Will Durant, meu historiador agnóstico conservador preferido, por uma pechincha; além de muitos quadrinhos no formatinho.

Mas isso foi há alguns anos atrás. 6, 5 anos? Parece que foi há uma década. Parece até coisa de outra vida.

Sobre Este Blog


Bicho do mato, evito sair de casa o máximo possível, exceto quando descubro algum rolê cultural interessante. Quando em Brasília, por exemplo, eu frequentava festas noturnas (de rock alternativo), sebos, barzinhos universitários, bibliotecas e feirinhas de livros. Já tinha me acostumado e apreciava a vida cultural na capital. Por isso, quando voltei a morar no estado do Rio de Janeiro, na infame Baixada Fluminense, fiquei um pouco desesperado.


Antigo morador de Queimados, sabia (ou achava que sabia) que o município, que foi considerado o mais violento do Brasil em 2018, não tinha expressividade ou relevância cultural. Sem sebos, contava apenas com duas ou três pequenas livrarias evangélicas e uma biblioteca municipal que não passava dum quartinho abafado.

O jeito, pensei, era recorrer à agitação cultural do Centro do Rio. Lapa, Botafogo, CCBB, etc. Mas aí, como não tenho carro, teria que ir de trem, ou de ônibus. E se fosse num rolê noturno, como eu faria pra voltar durante a madrugada e bêbado? Seria arriscado e imprudente. Rio de janeiro é Rio de Janeiro, Baixada é Baixada. Melhor não dar bobeira: vacilou, perdeu.

Então pensei em procurar algum evento mais perto. Afinal, a Baixada é região que integra vários municípios. Queimados era culturalmente inexpressivo, mas Nova Iguaçu, pelo que me lembrava, era mais cultural: tinha centro de cultura, cena de rock independente,  escolinha de xadrez, feirinha de livros, cursos de desenho, alguns sebos, algumas livrarias, FAETEC, CEFET e um polo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), além das boates e bares.

Duque de Caxias, São João de Meriti, Paracambi e Nilópolis eu só conhecia de nome. O que poderia ter de cultural e interessante rolando nesses municípios? Era hora de descobrir.

Meu foco, claro, é conhecer o mundo dos livros e dos escritores da região. Mas também pretendo escrever sobre música, mídia alternativa, fanzines, blogs, coletivos, livros e artistas locais, desde que me despertem o interesse.

Pensar e Escrever sobre a Baixada Fluminense

                       


Cresci na Baixada, mas fiquei muito tempo longe. Morei e estudei na capital. Lá me envolvi com traficantes, seitas malucas, anarquistas e marginais da contracultura. Encontrei um amor, perdi dois, arrumei um bocado de confusão, perdi o emprego e fui praticamente expulso da graduação. Derrotado, sem grana e sem perspectiva, fui obrigado a pedir socorro a meus irmãos e progenitores - que, bem ou mal, e mesmo a contragosto, sempre me acolheram. E foi assim que, depois de muitos anos, me vi de volta à Baixada Fluminense.

Eu havia encorpado minha bagagem intelectual e já escrevia regularmente, mesmo que sem grandes pretensões literárias. Notei que a Baixada continuava o mesmo lugar decadente que sempre fora. Na verdade, era só agora, só depois de viver fora e adquirir alguma noção de como é o mundo da classe média e de como são os estados planejados, que eu conseguia olhar (o Rio de Janeiro e) a Baixada com a lente apropriada.

Antes, quando habitual morador, a vida por estas bandas não me surpreendia. Meu olhar era o olhar comum, pois, por mais precária que a região fosse, era tudo o que eu conhecia do mundo. Os estudos que fiz na capital, e também em outros lugares, acentuaram minha consciência geográfica, histórica e cultural. Agora, de volta à Baixada, era impossível não ficar surpreso com o modo de vida das pessoas da região. Muitas coisas desagradáveis, interessantes, curiosas ou incômodas eu simplesmente havia esquecido ou nunca havia refletido a respeito previamente.

É um lugar esquecido, mal governado, precário e problemático. Cheio de histórias peculiares e inusitadas, e outras tantas repetitivas, previsíveis. Achei que seria importante escrever a respeito da região, especialmente sobre o município onde atualmente resido. Registrar algumas histórias de uma perspectiva que só um doido como eu poderia considerar. Se for útil a algum leitor curioso, tanto melhor.


quinta-feira, 15 de julho de 2021

11 Conselhos Para Jovens Nerds

 

[Dexter, o pequeno e arrogante gênio.]
                                          
Há poucas coisas realmente importantes na vida. Inteligência é uma delas. Alguém aí duvida que tudo que temos de bom e de valoroso na sociedade (e que todos os bens, físicos ou conceituais,dos quais desfrutamos) são frutos da inteligência e do esforço contínuo dos homens do passado?

Se alguém ainda tem dúvidas, basta olhar ao redor. Celulares, arranha-céus, carros, geladeiras, televisores, lâmpadas, trens… Todos esses bens não vieram do nada, não se construíram sozinhos. O processo de construção de apenas alguns deles, como um computador ou um carro, ou mesmo um simples lápis, é tão complexo e apresenta tantas dificuldades técnicas que causa profunda impressão observar tais artefatos serem construídos aos montes, apesar de toda a dificuldade envolvida na confecção.

A inteligência humana aplicada tem permitido identificar e resolver problemas não apenas em questões de engenharia, mas também na medicina, na psicologia, no direito, na política e em qualquer outra área que você possa imaginar. Além disso, a quantidade de conhecimento acumulado, utilizado e acessível nunca foi tão alta em toda a história humana (o amigo leitor certamente já ouviu falar que vivemos na “Era da Informação”) e nossa civilização é totalmente dependente desses conhecimentos, dessa estrutura informacional.

Sabendo disso, percebendo que a manutenção da nossa frágil civilização e de seus bens depende do conhecimento e da inteligência, era de se esperar que nossas crianças e jovens tivessem sua curiosidade natural (esse elemento formador da inteligência) mais do que estimulada. Era de se esperar que as mentes mais destacadas, os espíritos introspectivos, dados à leitura e à reflexão, ao cálculo, à descoberta e à solução de problemas difíceis, fossem encorajados e incentivados, tidos até como heróis mantenedores da vida, da civilização e do progresso, afinal, se não houver ninguém para guardar, descobrir e utilizar o conhecimento, que será de uma civilização baseada nele?

Infelizmente, porém, o brasileiro está longe, muito longe, de compreender isso. E consequentemente está longe de valorizar e de incentivar a inteligência e a curiosidade dos mais jovens. Por outro lado, os brasileiros são excelentes em incentivar a sexualização precoce e o retardamento infanto-juvenil.

Argumentos são discutíveis, opiniões não...

  Com frequência maior do que considero saudável, reparo — em discussões e pretensos debates — colocações e posturas que, para dizer a verda...