Pensar e Escrever sobre a Baixada Fluminense

                       


Cresci na Baixada, mas fiquei muito tempo longe. Morei e estudei na capital. Lá me envolvi com traficantes, seitas malucas, anarquistas e marginais da contracultura. Encontrei um amor, perdi dois, arrumei um bocado de confusão, perdi o emprego e fui praticamente expulso da graduação. Derrotado, sem grana e sem perspectiva, fui obrigado a pedir socorro a meus irmãos e progenitores - que, bem ou mal, e mesmo a contragosto, sempre me acolheram. E foi assim que, depois de muitos anos, me vi de volta à Baixada Fluminense.

Eu havia encorpado minha bagagem intelectual e já escrevia regularmente, mesmo que sem grandes pretensões literárias. Notei que a Baixada continuava o mesmo lugar decadente que sempre fora. Na verdade, era só agora, só depois de viver fora e adquirir alguma noção de como é o mundo da classe média e de como são os estados planejados, que eu conseguia olhar (o Rio de Janeiro e) a Baixada com a lente apropriada.

Antes, quando habitual morador, a vida por estas bandas não me surpreendia. Meu olhar era o olhar comum, pois, por mais precária que a região fosse, era tudo o que eu conhecia do mundo. Os estudos que fiz na capital, e também em outros lugares, acentuaram minha consciência geográfica, histórica e cultural. Agora, de volta à Baixada, era impossível não ficar surpreso com o modo de vida das pessoas da região. Muitas coisas desagradáveis, interessantes, curiosas ou incômodas eu simplesmente havia esquecido ou nunca havia refletido a respeito previamente.

É um lugar esquecido, mal governado, precário e problemático. Cheio de histórias peculiares e inusitadas, e outras tantas repetitivas, previsíveis. Achei que seria importante escrever a respeito da região, especialmente sobre o município onde atualmente resido. Registrar algumas histórias de uma perspectiva que só um doido como eu poderia considerar. Se for útil a algum leitor curioso, tanto melhor.


Comentários

Postagens mais visitadas